sábado, 28 de dezembro de 2013

Pedro estava em estado de choque. Ricardo estava muito mais magro. Todo sujo com as mesmas roupas da última vez que o tinha visto. Estava irreconhecível. Ricardo era gerente de um banco. O fato acompanhava-o todos os dias e um sorriso também. Era um homem amável, carinhoso, simpático. Toda a gente o conhecia e admirava pela pessoa que era. Mas hoje ali a sua frente estava outro Ricardo. Percebia-se a dor que tinha dentro dele, o desgosto que lhe escorria nas lágrimas e a tristeza com que falava.
- Ela está linda ali não está? Ela era linda todos os dias. Ia ser uma grande mulher. Ia formar-se na melhor faculdade e eu ia estar na primeira fila a filmar tudo. Ia as festas todas a que tu vais. Todos iam gostar dela porque não tem como gostar. Ia casar e eu ia leva-la ao altar. Ia dar-me os netos mais lindos. Ia ser uma mãe perfeita. Ia ser para sempre a minha menina. Era ela que devia estar aqui a olhar para mim. Não eu.
Pedro continuava em silêncio. Queria falar, contar tudo. Queria acalmar Ricardo dizendo que ele não tinha culpa de nada. Queria aliviar um bocado daquela tristeza mas não conseguia. Algo parecia impedir-lhe de falar.
- Ela gostava muito de si. – foram as únicas palavras que Pedro conseguiu dizer.
- Eu sei que sim Pedro.
Mais cinco minutos e Pedro levantou-se para ir embora. Não queria estar mais ali. O estado de Ricardo estava a mexer demais com ele. Despediu-se, fez uma chamada para a central de táxis e ao fim de pouco tempo lá estava ele a iniciar a mesma viagem de volta para casa. Aquela tarde tão cedo não lhe ia sair do pensamento. 

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