domingo, 22 de dezembro de 2013
Em
casa de Anita pairava uma atmosfera pesada, escura. Joana, sua mãe, ainda não
conseguia sair do quarto. Chorava todos os dias com imagem de Anita encostada
ao seu peito e os sinais de falta de descanso já se faziam notar. Não comia há
uma semana e já tinha dado várias vezes entrada nas urgências com as tensões
baixas por falta de açúcar ou de desidratação. Já Ricardo, seu pai, saía todos
os dias em direcção ao bar no fundo do prédio em que habitavam. Embebedava-se e
voltava para casa de madrugada a gritar pelo nome de Anita ou por princesinha,
nome com que a costumava tratar. Em toda a casa ainda se fazia notar a presença
dela. A chávena de café do último pequeno-almoço ainda estava em cima da mesa
com a colher largada ao lado, relembrando a imagem de Anita sentada na cadeira
em frente a beber. A cama ainda estava por fazer e os livros estavam
completamente espalhados na secretária juntamente com imensos post-it’s das próximas tarefas. O pijama
estava caído no chão e os chinelos arrumados em cada canto do quarto. Tudo
parecia indicar que Anita ainda voltaria por volta das seis da tarde, no fim
das aulas, para casa.
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