terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Os dias continuavam e sucessivamente as faltas de Pedro às aulas iam acumulando. Às oito e meia, Elisabete, mãe de Pedro, deixava-o a porta da escola. Este entrava, circulava uns minutos pelo recinto e por volta das oito e quarenta e cinco saía. Pedro não aguentava ver as amigas de Anita, a secretaria dela vazia ou até as constantes perguntas e murmúrios que preenchiam o recreio.
Pedro fazia o mesmo caminho todos os dias. Encontrava-se perto de um café, frequentado só por jovens da escola, escondido num recanto, juntamente com mais dois jovens aparentemente mais velhos que ele. Tirava uma quantia razoável de dinheiro do bolso direito e do lado esquerdo guardava um pequeno pacote. Pedro todos os dias por volta das oito e cinquenta e cinto comprava droga. No fim saia e dirigia-se para um campo de futebol abandonado nas redondezas. Dizia-se na vila que era apenas frequentado pelos drogados. Lá apareciam mais alguns jovens da mesma idade que ele e fumavam. Pedro naqueles momentos abstraia-se do mundo, de tudo aquilo que o rodeava, dos atormentos que agora lhe enchiam o dia. Sentia-se leve, a entrar noutro mundo. Por vezes sentia que chegava a encontrar Anita pela viagem.
No fim Pedro arrumava tudo e dava uma pequena volta sozinho. Lembrava-se de tudo que já tinha feito com ela e por todos os momentos que já tinham passado e nessa hora lá conseguia aparecer um sorriso. Lembrava-se também da tarde em que tudo aconteceu. Pedro estava com ela, foi ele que ligou para o inem mas por algum motivo não queria que se soubesse. Pedro guardava um segredo. Um segredo suficientemente forte capaz de o mudar e prender. Capaz de o levar a consumir drogas para esquecer, a ser frio com os pais, a faltar as aulas, a ficar calado, a esquecer toda a vida que até aquele momento tinha. 

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