terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Aquela informação caiu como uma bomba. Que faria ele numa situação daquelas. Seria verdade?
- Bem professora, obrigada pela informação. Vou falar com os pais. Provavelmente vão querer falar consigo e quando isso acontecer eu avisarei. Pode sair.
O Director, João, mal o bater da porta soou vasculhou pela ficha do aluno. Sabia que a tinha algures em cima da secretaria. Pedro com as constantes faltas tinha-lhe dado grandes problemas nos últimos dias. Com um virar de páginas muito rápido lá conseguiu encontrar: "contacto do encarregado de educação". Pegou no telefone e ao fim de uma chamada falhada conseguiu resposta.
- Boa tarde? - soou do outro lado.
- Boa tarde senhora Elisabete. Daqui fala o director da escola de Pedro.
- Sim, aconteceu alguma coisa? Ele voltou a faltar as aulas?
- Não, ele chegou mesmo a vir a primeira aula. Temo que o problema seja mais grave que esse.
- Então? Ele esta bem? Que aconteceu?
- O Pedro hoje durante uma discussão com a professora de Matemática afirmou ter visto morrer Anita.
Naquele instante Elisabete parou. Não acreditava nas palavras que tinha acabado de ouvir e tudo aquilo lhe parecia não fazer sentido.
- Dona Elisabete?
Uns largos segundos silenciosos surgiram. Elisabete não sabia o que dizer.
- Estou? Dona Elisabete? Está ai?
-Sim, sim. Peço desculpa. Não estava a ouvir bem.
- Sabe que nestas situações vou ter que alertar as autoridades.
- Não. Não. Peço-lhe. Deixe-me falar com o Pedro primeiro e amanhã já lhe digo alguma coisa. Deixe-me primeiro saber do que aconteceu mesmo por ele.
- Então têm até amanhã. Depois tem mesmo que me dizer qualquer coisa porque isto não pode ficar assim visto que uma turma inteira é testemunha do que se passou.
- Sim eu sei e desde ja lhe agradeço e peço desculpa por toda esta situação.
- Então até amanhã Dona Elisabete.
- Até amanhã e mais uma vez desculpe.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pedro parou e calou-se. Sentiu todos os olhares da sala postos sobre ele. Sentiu os pensamentos e suposições onde estaria ele colocado como culpado que estariam a passar pelo pensamento dos seus colegas. Os olhos da professora estavam cravados nele. Transmitiam uma sensação de julgamento. Não queria ter dito aquilo. Deixou-se levar e estava arrependido. Queria voltar atrás no tempo e apagar aquilo. Ainda não estava preparado para lidar com as pessoas. Precisava de desabafar e cada vez mais tinha certezas disso. Consciente de tudo o que tinha passado saiu da sala sem deixar rasto. Apenas uma porta aberta e uma cadeira caída no chão ficou como memória da presença dele naquela sala.
- Bem meninos podem sair que a aula acabou. - conseguiu a professora dizer ainda transtornada com tudo.

Saiu e dirigiu-se ao conselho directivo. Pediu com uma certa exigência falar com o director o quanto antes e ao fim de 10 minutos entrou no escritório.
- Bom dia Professora Alice, a que devo esta rapidez?
- Bom dia. O Pedro, aquele aluno da turma de Anita? Lembra-se de quem é?
- Não tem um só Pedro nesta escola como deve perceber. Tente ser mais explicita.
- Aquele rapaz do décimo segundo ano, cheio de faltas nestas duas semanas prestes a chumbar a tudo .. Está a ter uma ideia de quem seja agora?
- Sim, já me lembro da situação. A directora de turma já falou comigo e os pais garantiram a presença dele nestas aulas por isso não se preocupe que não terá que lhe marcar mais faltas. Mas qualquer duvida que tenha fale com a Directora de Turma que está mais a par da situação.

- Sim mas não era sobre isso que queria falar. Ele voltou as aulas, aliás a primeira do dia foi comigo mas não correu muito bem.
- Então que aconteceu?
- Então que o Pedro no meio de uma discussão afirmou que tinha visto Anita pendurada na corda, que a tinha visto morrer.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Os dias foram passando e nada parecia aliviar a dor das pessoas que eram mais próximas. O assunto de café, da entrada da igreja, de recreio ou de encontro na mercearia ainda era a morte de Anita. Ao fim de inúmeros avisos de uma ida para um colégio interno Pedro sentiu-se na obrigação de começar a frequentar de novo as aulas.
Eram 9:00 e lá estava ele sentado numa secretária de sala de aula. Não estava com a mínima vontade de estar ali e tudo aquilo lhe fazia confusão. A simpatia da professora, a forma carinhosa e preocupada com que todos se mostravam para com ele não era normal e isso ainda lhe incomodava mais. Olhou para o seu lado e lá estava: Ana e Raquel. Estavam diferentes, mais magras e com os olhos bastante inchados. Supôs que também não se sentissem bem com tudo o que se estava a passar. Teve vontade de as abraçar, sentir que de alguma forma Anita estava mais próxima dele. Não se mexeu. Não era dado a formas de afecto e só em ter esse pensamento já achava que algo de errado se estava passar com ele. Passou a aula inteira de bruços sobre a mesa com a cabeça pousada em cima. Tinha os phones postos. De cinco em cinco minutos olhava para o relógio e a aula parecia não ter fim. Sentiu-se adormecer por momentos.
- Pedro? Pedro? Pedrooo! – gritava a professora com um aumento de voz gradual
- Ãh? Que queres?
- Que queres? Pedro sou tua professora. Eu sei que estes momentos têm sido difíceis para ti desde que Anita morreu, mas também não tem sido fácil para mim nem para os teus colegas por isso exijo respeito.
- Que sabes tu? Que sabem eles? Á quanto tempo conhecias a Anita? Não conhecias. Esta calada.
- Pedro já chega. Vou ser obrigada a expulsar-te. Tudo tem limites e tu já atingiste o teu. Eu sei que estas afectado com isto tudo mas isso não muda nada.
- Não precisa expulsar-me. Eu vou sozinho. E tu não sabes nada. Nada mesmo. Tiveste com a Anita durante as aulas e era essa pessoa que conhecias. Nunca a viste chorar. Nunca a viste sorrir. Nunca tiveste um momento com ela fora destas quatro paredes e achas que sabes alguma coisa? – dizia Pedro gritando revoltado com tudo o que tinha acabado de ouvir.
- Sai Pedro.
- Afectado? Ninguém sabe o que estou a passar e ainda se acham no direito de opinar. Eu vi a Anita morrer. Eu vi a Anita com aquela corda ao pescoço. Eu vi a Anita pendurada. 

sábado, 28 de dezembro de 2013

Pedro estava em estado de choque. Ricardo estava muito mais magro. Todo sujo com as mesmas roupas da última vez que o tinha visto. Estava irreconhecível. Ricardo era gerente de um banco. O fato acompanhava-o todos os dias e um sorriso também. Era um homem amável, carinhoso, simpático. Toda a gente o conhecia e admirava pela pessoa que era. Mas hoje ali a sua frente estava outro Ricardo. Percebia-se a dor que tinha dentro dele, o desgosto que lhe escorria nas lágrimas e a tristeza com que falava.
- Ela está linda ali não está? Ela era linda todos os dias. Ia ser uma grande mulher. Ia formar-se na melhor faculdade e eu ia estar na primeira fila a filmar tudo. Ia as festas todas a que tu vais. Todos iam gostar dela porque não tem como gostar. Ia casar e eu ia leva-la ao altar. Ia dar-me os netos mais lindos. Ia ser uma mãe perfeita. Ia ser para sempre a minha menina. Era ela que devia estar aqui a olhar para mim. Não eu.
Pedro continuava em silêncio. Queria falar, contar tudo. Queria acalmar Ricardo dizendo que ele não tinha culpa de nada. Queria aliviar um bocado daquela tristeza mas não conseguia. Algo parecia impedir-lhe de falar.
- Ela gostava muito de si. – foram as únicas palavras que Pedro conseguiu dizer.
- Eu sei que sim Pedro.
Mais cinco minutos e Pedro levantou-se para ir embora. Não queria estar mais ali. O estado de Ricardo estava a mexer demais com ele. Despediu-se, fez uma chamada para a central de táxis e ao fim de pouco tempo lá estava ele a iniciar a mesma viagem de volta para casa. Aquela tarde tão cedo não lhe ia sair do pensamento. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Junto da fotografia reparou ainda num pequeno pedaço de pedra. Dizia “menina do papá”. Um sorriso com uma pequena gargalhada surgiu naquele momento. Lembrava-se das brincadeiras que Anita tinha com o pai. De como este a tratava e da forte ligação que eles tinham. Eram como amigos acima de tudo e Anita confiava imenso nele. Tinha todas as certezas que Anita gostaria de ter aquilo escrito porque tinha imenso orgulho em que lhe chamassem “menina do papá”. Por último olhou para a jarra. Estava cheia de rosas brancas. Estavam completamente abertas, lindas, como se tivessem acabado de ser postas.
Enquanto os olhos percorriam tudo em sua volta sentiu passos atrás de si, a encaminharem-se na sua direcção. Olhou sobressaltado e reparou que era Ricardo. Este chegou perto de Pedro e sem dizer nenhuma palavra sentou-se a beira dele. Ali ficaram os dois longos minutos num silêncio enternecedor.
- Venho aqui todos os dias Pedro. Fico aqui horas e horas a olhar para a minha menina. As vezes não acredito nisto tudo e fico a pensar que ela vai entrar pela porta de casa e atirar-se para as minhas costas. Porque é que ela me foi fazer isto? Eu nunca fui mau com ela. Nunca lhe bati. Sempre a ouvi e lhe dei tudo. Fui amigo dela. Era a minha menina. A minha menina. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Nesse momento parou. Voltou a ler “Anita Vaz Gomes” e aquelas palavras naquele sítio parecia ainda não lhe fazerem sentido. Aí Pedro cai sobre a campa. Sentia o coração a mil a hora, o mundo a desabar-lhe de baixo dos pés e como se não conseguisse impedir Pedro começa a chorar. As lágrimas escorriam-lhe pelo rosto e ele queria parar mas não conseguia.
- Porque é que foste fazer isto? Havia tantas soluções. Acabaste comigo. Acabaste com tudo. Foste egoísta e só pensaste em ti. E eu? Onde estava eu nos teus planos? Foste e deixaste-me. Não consigo fazer mais isto. Fizeste-me prometer mas não consigo mais Anita. Tenho que contar tudo. – Gritava Pedro num choro compulsivo.
Ali ficou duas horas na espera de que algo acontecesse. Reparou em tudo. Na fotografia dela onde mostrava tudo de mais bonito que Pedro achava nela. Lembrava-se daquele dia. Tinha sido no décimo primeiro ano. O momento em que Pedro olhou para ele com outros olhos. Era uma festa de escola, algo parecido com um baile e o traje pedido era de gala.  Pedro era seu par. Anita por alguma razão tinha-se preparado como nunca. Caiam-lhe sobre os ombros longos cachos de caracóis loiros. Tinha-se maquilhado levemente dando destaque aos olhos verdes, e posto o seu melhor vestido. Era preto, justo. Tinha uns pequenos ornamentos em pedras nos ombros e as costas eram abertas. “Estavas tão linda.”

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Já tinham passado duas semanas desde que Anita morrera. O dia usufruía da companhia de um sol resplandecente mas as temperaturas ainda não tinham subido o suficiente para largar o sobretudo de inverno. Pedro levanta-se ao som do despertador, dirige-se para a casa de banho, e inicia a sua rotina. Toma um banho longo e veste um fato de treino. Toma um pequeno-almoço á pressa e sai de fugida. À porta já tinha um táxi a espera. Entra e dá as direcções ao motorista. Ao fim de 15 minutos lá estava ele pronto a enfrentar aquilo que andava a temer a dias. Sai e com uns passos pequenos Pedro chega a porta. Era um cemitério. “Já chegaste até aqui, agora entra”. Pedro entrou e encaminhou-se para a campa onde pensava estar Anita. Não tinha ido ao funeral mas supôs que estivesse junto de sua família. Enganou-se. Nada indicava a presença do corpo dela naquele espaço. Continuou andar, encaminhando-se para as últimas campas construídas. Leu a primeira “António Torres Vasconcelos”. Leu a segunda “José Fonseca de Almeida. Leu a terceira “Anita Vaz Gomes”. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Os dias continuavam e sucessivamente as faltas de Pedro às aulas iam acumulando. Às oito e meia, Elisabete, mãe de Pedro, deixava-o a porta da escola. Este entrava, circulava uns minutos pelo recinto e por volta das oito e quarenta e cinco saía. Pedro não aguentava ver as amigas de Anita, a secretaria dela vazia ou até as constantes perguntas e murmúrios que preenchiam o recreio.
Pedro fazia o mesmo caminho todos os dias. Encontrava-se perto de um café, frequentado só por jovens da escola, escondido num recanto, juntamente com mais dois jovens aparentemente mais velhos que ele. Tirava uma quantia razoável de dinheiro do bolso direito e do lado esquerdo guardava um pequeno pacote. Pedro todos os dias por volta das oito e cinquenta e cinto comprava droga. No fim saia e dirigia-se para um campo de futebol abandonado nas redondezas. Dizia-se na vila que era apenas frequentado pelos drogados. Lá apareciam mais alguns jovens da mesma idade que ele e fumavam. Pedro naqueles momentos abstraia-se do mundo, de tudo aquilo que o rodeava, dos atormentos que agora lhe enchiam o dia. Sentia-se leve, a entrar noutro mundo. Por vezes sentia que chegava a encontrar Anita pela viagem.
No fim Pedro arrumava tudo e dava uma pequena volta sozinho. Lembrava-se de tudo que já tinha feito com ela e por todos os momentos que já tinham passado e nessa hora lá conseguia aparecer um sorriso. Lembrava-se também da tarde em que tudo aconteceu. Pedro estava com ela, foi ele que ligou para o inem mas por algum motivo não queria que se soubesse. Pedro guardava um segredo. Um segredo suficientemente forte capaz de o mudar e prender. Capaz de o levar a consumir drogas para esquecer, a ser frio com os pais, a faltar as aulas, a ficar calado, a esquecer toda a vida que até aquele momento tinha. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Era uma terça-feira. Chovia imenso e a temperatura tinha descido drasticamente nos últimos dias. O som da campainha ecoou pela casa. Só Joana estava em casa e dada a sua inexistente vontade em receber visitas o som continuou a ecoar infinitas vezes.
-Mas quem é? Não quero ver ninguém. Não percebem isso? – gritava Joana chateada.
A campainha continuava e ao fim de uns largos minutos, lá ganhou vontade e conseguiu levantar-se e abrir a porta. Era sua mãe. Desde que a tragédia tinha acontecido que a sua mãe a visitava todos os dias com um prato de comida tentado, no meio de tudo, não perder sua filha também.
- Joaninha, filha, cada vez estas pior. Olha para essas roupas. Tens de tomar um banho, come qualquer coisa. Olha o que te trouxe, a tua comida preferida e para sobremesa tens um bocadinho de bolo de chocolate. Anda comigo.
De nada as palavras mudaram a atitude de Joana, esta ao se aperceber que era sua mãe virou costas e dirigiu-se para o quarto. Sentia-se mais perto de Anita e nada mais lhe importava agora. Perdera a pessoa mais importante para ela.
- Não sei para que vieste, já te disse que não preciso de ti.
- Eu sei que precisas Joana. Já olhaste para ti? Perdi a minha neta, não me faças passar por tudo de novo, não te quero perder também.
- Vai-te embora e deixa-me.
Margarida, mãe de Joana, começava a sentir os olhos molhados. Estava prestes a chorar mas não o podia fazer em frente a sua filha, já tinha passado por muito, tinha que se mostrar forte, mostrar a filha que tinha alguém ali em quem se podia apoiar, com quem podia contar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Em casa de Anita pairava uma atmosfera pesada, escura. Joana, sua mãe, ainda não conseguia sair do quarto. Chorava todos os dias com imagem de Anita encostada ao seu peito e os sinais de falta de descanso já se faziam notar. Não comia há uma semana e já tinha dado várias vezes entrada nas urgências com as tensões baixas por falta de açúcar ou de desidratação. Já Ricardo, seu pai, saía todos os dias em direcção ao bar no fundo do prédio em que habitavam. Embebedava-se e voltava para casa de madrugada a gritar pelo nome de Anita ou por princesinha, nome com que a costumava tratar. Em toda a casa ainda se fazia notar a presença dela. A chávena de café do último pequeno-almoço ainda estava em cima da mesa com a colher largada ao lado, relembrando a imagem de Anita sentada na cadeira em frente a beber. A cama ainda estava por fazer e os livros estavam completamente espalhados na secretária juntamente com imensos post-it’s das próximas tarefas. O pijama estava caído no chão e os chinelos arrumados em cada canto do quarto. Tudo parecia indicar que Anita ainda voltaria por volta das seis da tarde, no fim das aulas, para casa.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Pedro e Anita eram colegas de turma mas essencialmente amigos. Conheciam-se desde o sétimo ano e desde então que se mostravam muito unidos. Eram constantemente vítimas de bocas por parte dos pais na tentativa de se tornarem o futuro casalinho. Mas talvez não passasse disso, tentativas. Anita sempre viveu a margem da popularidade de Pedro. Era estudiosa, tinha grandes notas mas o seu ar de ratinho de biblioteca, sempre preocupada com o próximo trabalho ou teste levava a que os “muitos amigos” não quisessem nada com ela.
Tinha longos cabelos loiros encaracolados, olhos esverdeados e um tom de pele clara. Era alta, magra mas o seu estilo não se destacava. Adorava roupas simples, sem grandes ornamentos que pudessem causar qualquer chamamento de olhares. Grande maioria do seu guarda-roupa se constituía com inúmeras calças de ganga idênticas, camisolas básicas em cores diferentes e um casaco preto para os dias em que a chuva gostava de se fazer notar. Tinha 3 amigos: Ana e Raquel, espelhos dela, e Pedro. Sempre nomeada delegada de turma sem nunca demonstrar qualquer falta de respeito para qualquer docente, Anita tinha todos os requisitos para uma filha perfeita com um futuro próspero. Já Pedro constituía o grupo mais popular da escola. Era considerado dos rapazes mais lindos. Alto, loiro, olhos azuis. Frequentava o clube de futebol da vila, sendo capitão e tinha presença assídua no ginásio o que lhe moldava, ainda mais, a sua imagem musculada. Tinha notas razoáveis graças a Anita, seu apoio no estudo e realizadora dos seus trabalhos. Era assim o estereótipo de um rapaz de sonho. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

“Até ao momento sem explicação, Anita Vaz Gomes, 18 anos, foi encontrada morta perto de sua residência num pequeno mato, vítima de suicídio por enforcamento, na tarde de segunda-feira passada (8), na Rua São João, no bairro do Bananal, parte alta da capital. As causas ainda se mostram desconhecidas mas tudo aponta para uma depressão. As investigações até ao fecho desta edição prosseguem.”
António percorria o olhar sobre o jornal ainda entristecido com tudo o que estava acontecer em volta da pequena vila. Conhecia Anita, os pais eram seus amigos. Tinha acompanhado o seu crescimento. Nem que lhe dissessem em tempos atrás que tal fosse acontecer ele iria estar preparado ou até mesmo conseguido acreditar. O sorriso com que o brindava todos os dias na entrada da escola aparentava uma adolescente feliz. “Porque é que ela fez isto?” Constantemente se questionava e de nenhuma forma parecia haver resposta.
Enquanto isto, no hall de entrada a porta acabara de bater com um som capaz de abanar a casa inteira. António desvia o seu olhar na esperança de apenas com um pequeno esforço de pescoço conseguir visualizar quem tinha entrado. Era Pedro, seu filho. Desde que se soube da morte de Anita que Pedro tinha mudado a sua atitude. Andava revoltado, ansioso. Respondia mal aos pais e as ultimas informações por parte da directora de turma mostravam ausências contínuas nas aulas, faltas de educações aos professores e uma queda nas notas. O pai não conseguia manter um diálogo com ele e isso só o enfurecia, queria ajudar e não conseguia, sentia-se impotente. A psicóloga tinha recomendado que o deixasse a pouco e pouco perceber tudo o que tinha passado. “Paciência senhor António, o seu filho sofreu uma perda muito grande e traumática, tem que lhe dar espaço. Não seja bruto com ele nem o pressione para que fale consigo. Ele tem que levar o tempo dele.”