domingo, 5 de janeiro de 2014

Dentro do carro o ambiente era de pesado. Pairavam muitos segredos e descobria o primeiro que iria ter coragem para falar.
- Pedro vais ter que contar essa historia muito direitinha quando chegarmos a casa.
- Eu sei mãe.
Nos últimos dias já se começava a tornar um hábito as acelerações nas estradas. Os transtornos contínuos que a morte de Anita tinha causado levava a que toda a gente vivesse com as emoções a flor da pele. Elisabete estava muito nervosa e queria o quanto antes chegar a casa. Já Pedro preferia eternizar aquela viagem, não sabia o que lhe esperava e ainda não tinha uma ideia formulada na cabeça de como iria contar tudo. Como seria de esperar, dado que o ponteiro do velocímetro não saia dos 100 km/h em 7 minutos lá estavam eles a entrar em casa. Apesar de tudo a rotina não mudara. A mochila de Pedro era largada no chão, a mala de Elisabete pousada nos cabides à beira e o casaco do mesmo modo. Encaminharam-se para a sala. Elisabete sentou-se e pediu um acto igual por parte de Pedro. Pedro sentou-se.
- Já liguei ao teu pai. Ele deve estar a chegar por isso vamos esperar.
Elisabete tinha razão. Ao fim de 3 minutos já se ouvia um barulho a chegar de um carro lá fora. Elisabete como por impulso lança-se para a janela. Era António. Abre-lhe a porta e dava-se o inicio de mais uma rotina. O casaco no cabide e os papeis e chaves pousados em cima de uma pequena mesa de apoio ao hall de entrada. Seguiram os dois para a sala e lá estava tudo reunido. Pedro sentado no sofá de 3 lugares a sentir-se a criança pequena que em tempos fora pronta a ouvir dos seus pais por ter roubado doces na loja do lado, e Elisabete e António, que como pais que eram amavam o seu pai mais que tudo e nada lhes fazia prever aquilo. Mas aquela situação era muito mais grave que um roubo de doces ou uma falta na escola. Era uma morte e Pedro tinha assistido a tudo.

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